Materiais flexíveis e versáteis são fundamentais para a humanidade há milhares de anos, mas a história do plástico como o conhecemos hoje é relativamente recente. Entre o final do século 19 e o começo do século 20, polímeros sintéticos à base de petróleo, carvão mineral e gás natural começaram a substituir polímeros naturais, como couro, algodão, celulose e resinas de árvores, em uma infinidade de utensílios da vida cotidiana, das nossas roupas às sacolas de compras. Mas é apenas a partir da década de 1950 que tem início a produção em massa desses plásticos, transformando rapidamente a nossa relação com a vida material e a vida natural, com graves consequências para o planeta.
Embora tenham inquestionável utilidade no nosso dia-a-dia, os componentes plásticos muitas vezes são usados de forma efêmera, ao passo que seu tempo de vida pode ultrapassar dezenas de gerações. O problema é que eles não desaparecem da Terra só por desaparecerem da nossa vista. Por levar de centenas a milhares de anos para se decompor completamente, o plástico descartado pela humanidade permanece muito tempo em nossos rios, oceanos e florestas como corpos estranhos, ameaçando a vegetação e a saúde de humanos e animais. Quando esses materiais chegam a lixões ou aterros sanitários, sua reciclagem é desafiadora, devido à grande variedade de tipos de polímeros e à consequente necessidade de separá-los, enquanto sua queima libera gases tóxicos na atmosfera.
Hoje os seres humanos têm uma dívida enorme com a Terra. Somada ao descarte de bilhões de toneladas de plástico ao longo do último século, a emergência climática, provocada pela utilização excessiva dos mesmos recursos de origem fóssil que nos proporcionaram o plástico, impõe à humanidade um sentido de urgência que nos obriga a rever e transformar a forma como produzimos, consumimos e descartamos os materiais da nossa vida cotidiana.
Assim como o reuso e a reciclagem do plástico já existente são parte importante na estratégia de mitigação climática, é fundamental buscar alternativas à produção desse plástico de origem fóssil, fazendo o caminho de volta aos polímeros naturais, a partir dos mais recentes avanços em ciência e tecnologia.
Nessa busca por soluções inovadoras que tenham impacto socioambiental positivo, fazendo o melhor uso da matéria-prima nativa que a própria natureza nos proporciona, atuamos ativamente no desenvolvimento de estudos e aplicações de blendas poliméricas biodegradáveis e compostáveis.
A partir dos conceitos da economia circular e da imensa disponibilidade de resíduos naturais das cadeias produtivas da Amazônia e das zonas costeiras do Brasil, decidimos investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de bioplásticos que utilizassem rejeitos orgânicos como matéria-prima, contribuindo não apenas para a mitigação climática como para a geração de renda das comunidades tradicionais que vivem nesses biomas.
Em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), já alcançamos importantes avanços com a bem-sucedida injeção plástica (em injetoras convencionais) de corpos de prova que utilizaram blendas de biopolímeros 100% naturais, a partir de resíduos de sementes e caroços amazônicos, sem qualquer adição de componentes de origem fóssil, garantindo, assim, uma biodegradação total.